Cerveja, cerveja e mais cerveja,
sempre posta sobre o balcão a espumar
ou em cima de uma já velha mesa.
Nesse bar, escuro, sombrio, no canto da rua,
está uma mulher, nada abstémica, absorvendo,
absorta e quase nua.
As suas mãos enlaçam-se de modo maquinal
e, então, levando tremulamente, mais um copo
de cerveja à boca, ela o absorve de modo banal.
O cabelo sujo e desordenado cai-lhe na face ainda bela,
e, olhando sorrateiramente, por debaixo dele,
convida olhares anónimos a mirá-la, olhando só p'ra ela.
Devagar, vai ficando envolta em fumo, no seu próprio fumo,
devagar acaricia cada gota de cerveja, com o seu languido olhar,
espera talvez, quem sabe, pelo sorriso ou algo mais dos clientes que ali irão beber,
sem palavras, cabisbaixa, vai olhando e volta a olhar.
Mas, sem que nada de verdadeiramente especial, ali se passasse,
soltou um enorme grito que todo o bar fez tremer e sobressaltar,
depois chorou e perguntou:
Será que ninguém me quer a-m-a-r ?